Carta aberta publicada em jornal menciona Israel e a crença em Deus.
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Presidente russo dá uma aula de cristianismo a Obama |
De um lado, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2009 e líder da que foi chamada durante muitos anos de “a maior nação evangélica do mundo”. Do outro, um polêmico presidente de um país que durante mais de 70 anos tentou exterminar todas as religiões e instaurar o ateísmo comunista.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Barack Obama, dos EUA, estão no centro do debate internacional sobre a necessidade (ou não) de uma intervenção militar estrangeira na Síria. Putin tem seus interesses, pois é aliado do atual presidente Bashar al-Assar. Obama, embora não admita, sabe que a CIA tem fornecido armas aos rebeldes e, de maneira surpreendente, se aliado à Al-Qaeda.
No que parecia ser a véspera do ataque americano, Moscou sugeriu a Damasco que entregasse suas armas químicas, as destruísse e participa-se da Convenção pelo Banimento de Armas Químicas. Para surpresa de muitos, a Síria respondeu positivamente. Obama foi forçado a mudar o discurso e declarou que a resposta da Síria era um “desenvolvimento potencialmente positivo”.
A hipótese de invasão ainda não está totalmente descartada, mas os especialistas em relações internacionais apontam para o fato de que isso pode resultar rapidamente em um conflito muito maior, que atingirá grande parte do mundo, em especial os países do Oriente Médio. Como sempre, um ataque a Israel é apontado pela Síria e pelo Irã como a primeira forma de “represália”.
Mas dia 11, quando se lembrava o 12º aniversário do ataque que marcou o início do século XXI e foi usado de justificativa para a invasão do Iraque e do Afeganistão, uma outra surpresa. O New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo, publicou o artigo “Um apelo da Rússia: o que Putin tem a dizer aos EUA sobre a Síria”. É uma espécie de “carta aberta” que repercutiu na imprensa mundial.
Quem agia como embaixador pela paz era o presidente russo e alguns trechos do material tem um peso histórico. Obama tem jogado a responsabilidade de algumas decisões militares para o Congresso dos Estados Unidos. Vladimir Putin fez uma crítica certeira ao que é quase um dogma na política externa, a chamada “excepcionalidade” da nação americana, fruto direto de uma antiga e persistente mentalidade que o destino manifesto dos EUA é ser o guardião do planeta.
Eis alguns trechos do artigo, que para muitos analistas é uma aula de política externa e de cristianismo a Obama. Curiosamente, o presidente americano tomou posse pedindo ajuda a Deus para governar. Mesmo assim, para um número crescente de americanos ele é um “muçulmano disfarçado” e para 25% da população trata-se do próprio Anticristo.
Leia:
“As relações entre nós já passou por diferentes estágios. Estivemos uns contra os outros durante a guerra fria. Também já fomos aliados e juntos vencemos os nazistas… Esse potencial ataque dos Estados Unidos contra a Síria, mesmo com a oposição de muitos países e dos maiores líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, terá como resultado mais vítimas inocentes e, numa escalada que espalhará potencialmente, o conflito muito além das fronteiras da Síria.
Um ataque só intensificará a violência e irá iniciar uma nova onda de terrorismo. Isso pode minar os esforços multilaterais para resolver a questão nuclear iraniana e o conflito Israel-Palestina, além de desestabilizar o Oriente Médio e o Norte da África.Poderá desequilibrar todo o sistema da lei e da ordem internacional… O Departamento de Estado dos EUA classifica como organizações terroristas a Frente Al-Nusra, o Estado Islâmico do Iraque e o Levante, que lutam ao lado da oposição [da Síria].Esse conflito interno, sustentado por armas estrangeiras fornecidas aos rebeldes, é um dos mais sangrentos do mundo… Não estamos protegendo o governo sírio, mas o direito internacional… Ninguém duvida que gás venenoso foi usado na Síria.
Mas existem todos os motivos para acreditar que não foram utilizados pelo Exército sírio, mas sim pelas forças de oposição, visando provocar uma intervenção de seus poderosos patrões estrangeiros, que se mantêm ao lado dos fundamentalistas… Um número crescente de nações vem procurando adquirir armas de destruição em massa.É uma questão lógica: ninguém vai desafiar quem tem a bomba em seu arsenal… Analisei atentamente seu pronunciamento à nação na ultima terça-feira. E gostaria de discordar do que ele [Obama] disse sobre a excepcionalidade dos Estados Unidos, ao declarar que a política do país é “o que torna os EUA diferentes.
É o que nos torna excepcionais”. É extremamente perigoso encorajar as pessoas a considerar a si mesmas excepcionais, seja qual for a intenção… Existem nações grandes e pequenas, ricas e pobres, com tradições democráticas antigas e aquelas que ainda procuram seu caminho em rumo à democracia. Suas políticas também diferem.Somos todos diferentes, mas, quando pedimos as bênçãos de Deus, devemos nos lembrar de que Ele criou a todos nós como iguais”.
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