Ratões passeiam no Parque Morumbi
Até algumas semanas atrás, os ratões do banhado eram vistos fortuitamente nas redondezas do lago construído com o represamento das águas de três nascentes no Parque Morumbi, um loteamento entre a Vila da Prata e o Conjunto São Sebastião, nas cercanias da Serra do Mar. Eles chamavam a atenção, ao lado dos gansos e patos d’água que costumam atrair crianças e adultos ao lugar, especialmente nos finais de semana. Desde o final de junho, o agrupamento de uma dúzia da espécie está tornando ainda mais concorridas as visitas de populares ao bairro conhecido pela luta em favor da despoluição ambiental.
“Os moradores e as pessoas de outros bairros ficam observando o bando, que começou a ser visto há umas três semanas. É uma atração”, diz o morador Décio
Rodrigues Lopes, representante do Parque Morumbi nas ações comunitárias em favor do tratamento do esgoto lançado in natura no lago, que corre para o Rio Oropó, e posteriormente, ao Rio Jundiaí.
Os ratões, da família de outros roedores que vivem nas proximidades de riachos e ribeirões como as capivaras e ratos, chegam a medir um metro, quando considerado o enorme rabo. Pesam nove quilos, vivem 15 anos e, preferencialmente em bandos, como o que agora torna-se visita curiosa no Parque Morumbi.
Algo cada vez mais comum, a presença desses animais em áreas periurbanas decorre do processo de ocupação de regiões próximas a corredores e fragmentos de corredores verdes, como a Serra do Mar, na proximidade dali. São áreas de refúgio, em que sobram locais para a procura por alimentos, no caso, os peixes, folhas e grãos, forjadas pelo avanço da moradia onde antes essas espécies circulavam livremente.
É o explica a ecóloga Lucila Manzatti, secretária-adjunta do Meio Ambiente, que constrói carreira profissional como pesquisadora e professora em Mogi das Cruzes, desde o final da década de 90. “Esses animais estão encontrando tranquilidade e alimento nesses espaços que passaram a ser ocupados pelas famílias. São pequenos refúgios, onde eles não se sentem incomodados”, diz.
O fenômeno amplifica-se por muitos outros bairros mogianos, onde grupos de outras espécies silvestres estão vivendo. Capivaras, patos, lontras, e os ratões do banhado são encontrados com facilidade nas proximidades da várzea do Rio Tietê, em pontos como o Nova Mogilar, Rodeio, e Ponte Grande. Esses animais não estão sozinhos.
Aves e pássaros, e espéceis ameaçadas como o sagui-da-serra escuro são objeto de estudo de biólogos e outros especialistas na Cidade. A presença deles, por enquanto, de acordo com a secretária, é um fato controlado. “Há o interesse das pessoas em morar cada vez mais perto do verde, como ocorreu com esse bairro, o Parque Morumbi, e a convivência é tranquila, até o momento”, descreve.
Esse relacionamento, no entanto, deve seguir alguns cuidados, principalmente, por parte dos humanos. “Não se pode alimentar essas espécies com comida, pão, macarrão”, adverte a ecóloga. A alimentação inadequada provoca o desequilíbrio, esse sim, prejudicial. Há predadores naturais dessas espécies vivendo também nesses remansos verdes, que se interligam às Serras do Itapeti e do Mar, como jaguatiricas e gatos de mato. A interferência nessa cadeia alimentar pode gerar uma superpopulação desses grupos.
A recomendação de Lucila é a convivência pacífica. “É preciso respeitar esses animais e os hábitos deles”. No caso do ratão do banhado, ele encontra alimento fácil no lago do Parque Morumbi. “Às vezes, há uma boa vontade das pessoas que os alimentam. Mas, o ideal é que não haja a menor interfência na vida deles”, encerra.
Resumindo: embora seja inusitado, a presença desses visitantes inesperados deve ser tratada com naturalidade. Eles estão nesses locais porque as áreas verdes onde costumavam viver estão sendo tragadas pela ocupação humana. E os resultados futuros dessa convivência dependerá muito mais do homem do que do bicho. “Se não houver essa interferência, eles seguirão a rotina normalmente, procurando o alimento, se reproduzindo e sendo controlados pela cadeia natural de predadores”, finaliza a ecológa, para quem, a ampliação da vida silvestre em Mogi está controlada
Nenhum comentário