Sem aparelho, pais disseram que revezavam para segurar tubo de oxigênio.
Estado de saúde grave impedia transferência imediata, diz Secretaria.
Bebê de 3 meses morre enquanto espera vaga em UTI. |
Segundo a família, a paciente foi internada na noite de sábado (19) com convulsões, mas os médicos descobriram que o bebê estava com um princípio de penumonia. Ela já nasceu com outros problemas graves de saúde, como os rins menores do que o normal para um recém-nascido, além de lábios leporinos e problemas cardíacos. A mãe de Manuela conta que precisou segurar o tubo de oxigênio que auxiliava a respiração da filha durante 15 horas. "Eu e meu marido revezamos nesse tempo todo, porque o hospital não tinha a máscara do tamanho do rostinho da minha filha. Ela estava em uma ala junto com pessoas adultas, estava sem roupa. Minha maior dor é que perdi minha filha por causa do descaso e da burocracia. Me disseram por várias vezes que não haviam vagas nos hospitais estaduais da região", contou Rafaela Evaristo Tibiriçá, mãe do bebê.
Para a prima da criança, Jennifer de Abreu Araújo Gonçalves, que acompanhou a situação, faltou estrutura. "O atendimento para ela exigia mais equipamentos. Os médicos de Poá fizeram o que podiam, mas o hospital não tem estrutura para receber casos muito graves, como este. Por isso, desde que chegamos, o hospital tentava transferência para uma unidade com UTI, mas a Secretaria de Estado da Saúde só dificultou e não tivemos tempo de salvá-la", disse a prima da criança.
Por volta das 18h, a família conseguiu transferência para o hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes. Entretanto, a criança não resistiu. "Quando colocamos ela dentro da ambulância, minha mãe já sentiu que ela estava molinha e gelada. Então o médico pegou ela e já começou a socorrê-la, mas infelizmente ela não resistiu. Espero que casos como este não voltem a acontecer em Poá, que sirva de alerta", disse Jenifer.
A Prefeitura de Poá informou que o Hospital Guido Guida é uma unidade de pequeno porte, mantido por recursos municipais e por isso não tem UTI. Ainda de acordo com a administração municipal, as UTIs são de responsabilidade do Governo do Estado e o hospital não recebe verba estadual. A Prefeitura informou ainda que o quadro de médicos neste domingo (20) estava completo, com quatro clínicos-gerais e dois pediatras, e que tinha condições de transportar a paciente para outra unidade desde que houvesse vaga em UTI. Quanto ao tubo de oxigênio que precisou ser segurado pelos pais do bebê durante 15 horas, a prefeitura disse que a enfermeira só pede a ajuda da mãe quando a criança se movimenta muito, soltando o catéter. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a direção da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS) informou que imediamente após receber o pedido de transferência para a paciente, "iniciou o processo para a regulação devaga de uma UTI pediátrica, que, inclusive, foi disponibilizada no Hospital de Clínicas Luzia de Pinho Melo. Porém, o quadro de saúde da paciente era muito grave, o que impossibilitava sua transferência imediata. Portanto, a evolução à óbito da paciente não foi causada por falta de vaga em hospitais estaduais e sim pela gravidade de seu caso."
A Secretaria ainda acrescentou "que não é responsabilidade somente do Estado contar com leitos de UTI. Além disso, para auxiliar hospitais que não possuem estrutura física para atender casos de alta complexidade, a Pasta estadual oferece o serviço da CROSS, um serviço estadual online, 24 horas, que possui condições de localizar leitos disponíveis em todaa região metropolitana da Grande São Paulo."
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